5 anos navegante®
expetativas e resultados
O primeiro painel de debate das Jornadas navegante® convidou representantes dos operadores de transporte a refletir sobre expetativas e resultados do projeto navegante®. Rui Velasco, do Instituto da Mobilidade e Transportes (IMT), moderou esta conversa entre Cristina Dourado, Presidente do Conselho de Administração da Fertagus, Pedro de Brito Bogas, Presidente do Conselho de Administração da Carris, e Alexandra Ferreira de Carvalho, Presidente do Conselho de Administração da Transtejo Soflusa e Diretora do Fundo Ambiental.
Para contextualizar, Rui Velasco deu os parabéns a todos os envolvidos no projeto navegante® e recordou um marco histórico, quando em novembro de 2023, os programas PART e o PROTransP ganharam o prémio de Melhor Política Pública atribuído pelo ISCTE, pelo facto de serem políticas públicas que foram concretizadas e bem-sucedidas – “permitiram de facto melhorar o sistema de transportes metropolitanos”. Feita a constatação, dirigiu a pergunta aos presentes: “Do vosso lado, enquanto operadores, como é que foi a receção à ideia do navegante® e como é que se adaptaram a ela?”
Em relação à ideia, os três representantes dos operadores foram unânimes no entusiasmo que ela provocou. O que ressaltava desde logo era a simplificação do processo, tão desejada, mas também o aumento da procura provocada pela redução do tarifário. E esse aumento da procura é o que todos desejam, enquanto concorrência ao transporte individual e não entre operadores, conforme evidenciou Pedro Bogas, da Carris: “o navegante® trouxe a aproximação dos operadores e a noção de que temos de trabalhar juntos”. Para Alexandra Ferreira de Carvalho, o entusiasmo não foi menor: “É incrível ter feito parte disto e é muito bom que esta política pública tenha ganho prémios.” E mesmo Cristina Dourado, que com sentido de humor assumiu o choque da Fertagus perante a ideia, reconheceu que teria sido “impensável ficar de fora do navegante®”.
“O choque” devia-se a uma outra situação que todos os operadores partilhavam: a de falta de recursos perante o aumento da procura, que obrigou a grandes adaptações. “Tínhamos apenas os mesmos 18 comboios desde o início da concessão”, justificou Cristina Dourado. E para não abdicar da qualidade do serviço, a Fertagus realizou uma série de adaptações: “Começámos por tirar bancos do comboio para aumentar a sua capacidade – tirámos 88 lugares sentados a cada comboio – e para facilitar a entrada e a saída, de modo a não originar atrasos. Pusemos mais um maquinista, para aumentar a circulação, e fizemos um reforço em pessoal. E, claro, investimos na manutenção dos comboios porque não nos podíamos dar ao luxo de ter falhas de espécie alguma.” Sem um aumento de frota à época, a Transtejo Soflusa teve de recorrer ao mesmo tipo de soluções para lidar com um aumento quase imediato de 20% do número de passageiros: “com a chegada do navegante®, aumentámos a lotação de 600 para 700 nos barcos do Barreiro. Atualmente estamos a executar a eletrificação da nossa frota, que deverá estar concluída em 2025”. O esforço foi igualmente sentido na Carris que, com números a disparar na ordem dos 25, 30% logo um mês após o início da operação, deu início a um “enorme investimento” na sua frota: “ainda agora recebemos 15 novos elétricos articulados e 30 autocarros elétricos novos, e estamos apostados em investir 170 milhões de euros até 2027 para fazer a substituição para autocarros amigos do ambiente, contando, até lá, chegar a 90% da frota com essas características.”
Neste trabalho de adaptação à nova realidade, impôs-se a questão da capacitação dos recursos humanos. Como foi gerida?
Para a Carris, que até há uns anos não sentia dificuldades no recrutamento, dada a reputação granjeada, no último ano foi exigido um reforço salarial para cumprir os ambiciosos objetivos de recrutamento – 110 novos tripulantes. “No ano passado promovemos o maior aumento salarial de que há memória na Carris”, esclareceu Pedro Bogas. Já a Fertagus, para quem esta questão não é complicada, a não ser na questão da manutenção, empenhou-se no investimento destes colaboradores, de forma a eles próprios poderem ser formadores. A Transtejo Soflusa admitiu ter um desafio na contratação de maquinistas e de manutenção porque as empresas privadas e estrangeiras oferecem melhores condições. “Condições remuneratórias melhores eram essenciais para tornar este setor mais apelativo”, desabafou Alexandra Ferreira de Carvalho.
Aproveitando a deixa dos “pedidos”, Rui Velasco perguntou aos operadores que prenda gostariam de receber neste dia de aniversário do navegante®?
E se na questão anterior houve algumas ligeiras divergências, foi a olhar para o futuro que todos pareceram ter a mesma perspectiva. A desmaterialização e a desburocratização são muito necessárias no processo do navegante®. Facilitar o acesso ao serviço é muito importante. Mas todos concluíram que estão a ser dados passos no bom caminho.